Gravação interrompida e detalhes confusos cercam tragédia da Jeju Air
O acidente com o Boeing 737-800 da Jeju Air em Muan, em dezembro de 2024, pôs em xeque a segurança da aviação comercial na Coreia do Sul. Dos 181 passageiros, apenas duas pessoas sobreviveram após a aeronave atingir uma estrutura de concreto ao fim da pista, trazendo memórias de tragédias que o país já queria esquecer. A morte de 179 pessoas chocou familias e virou tema central de debates sobre práticas mínimas de segurança e treinamento de pilotos.
A investigação ficou ainda mais complicada depois que as caixas-pretas – tanto o gravador de dados do voo (FDR) quanto o gravador de áudio da cabine (CVR) – pararam de funcionar cerca de quatro minutos antes do impacto. Esse detalhe levantou suspeitas entre especialistas e foi visto como fator crucial para tirar clareza dos momentos decisivos dentro da cabine. O que levou os dispositivos, fundamentais para análises minuciosas, a falharem tão cedo no episódio? Ainda não há respostas definitivas.

Decisão polêmica dos pilotos e pressão sobre autoridades
O voo enfrentou um impacto violento de aves, possivelmente patos, pouco antes do pouso. A colisão destruiu o motor direito, mas a tripulação acabou desligando o motor esquerdo – justamente o menos danificado. O desligamento comprometeu sistemas críticos como o Integrated Drive Generator (IDG), responsável pelo funcionamento dos instrumentos do voo e das próprias caixas-pretas. Investigadores não encontraram falhas anteriores nos motores, o que faz aumentar a dúvida sobre o motivo dessa decisão na cabine.
Mesmo sem apontar formalmente erro dos pilotos, o relatório do órgão de investigação deixou no ar a ideia de que houve falha humana. Associações de pilotos e familiares não aceitaram bem o enfoque das autoridades, alegando que faltou transparência e que o relatório foi lançado sem divulgação completa dos dados de voo.
- Muitos familiares acusam o governo e o conselho de investigação de tentar culpar apenas a tripulação, sem considerar problemas estruturais do aeroporto.
- O design da pista em Muan foi criticado por especialistas como perigoso, pela proximidade do desnível de concreto no fim da pista.
- O Ministro dos Transportes, Park Sang-woo, pediu demissão poucos dias após o desastre, afirmando carregar uma 'grande responsabilidade.'
O caso não só questionou o preparo dos pilotos para situações extremas, como também revelou possíveis falhas sistêmicas: do desenho de aeroportos à transparência nas investigações. Sindicatos e famílias das vítimas continuam cobrando medidas efetivas e divulgação integral dos dados do acidente, em meio a um clima de desconfiança sem precedentes na aviação local.