Na manhã de 9 de outubro de 2025, a Academia Sueca anunciou que o escritor húngaro László Krasznahorkai, nascido em Gyula, Hungria será o laureado do Nobel de Literatura 2025Estocolmo. A motivação, lida ao vivo por Mats Malm, secretário permanente da academia, destacou "sua obra contundente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte". Por que isso importa? Porque a escolha lança luz sobre uma narrativa que, décadas atrás, já dividia os círculos literários mundiais.
Histórico do Nobel de Literatura e a tradição centrado‑europeia
Desde 1901, o Prêmio Nobel tem seguido a vontade de Alfred Nobel de reconhecer conquistas que "benefichem a humanidade". A literatura, em particular, costuma valorizar autores que abordam questões existenciais com linguagem inovadora. No último decênio, nomes como Mario Vargas Llosa, Svetlana Alexievich e Han Kang mostraram que o Comitê não tem medo de pontuar temas sombrios.
Para a Academia Sueca, o foco em tradutores do pensamento central‑europeu não é novidade. Em 1975, o austríaco Thomas Bernhard foi citado como referência – e, curiosamente, a própria descrição oficial desta edição menciona o percurso de Kafka a Bernhard, posicionando Krasznahorkai como herdeiro de um legado que mistura "absurdismo e grotesco" com uma "tonalidade contemplativa" inspirada no Oriente.
Detalhes da escolha – o que pesa na decisão?
A decisão foi tomada após a reunião fechada em , quando o Comitê analisou mais de 200 candidaturas enviadas até 1º de fevereiro de 2025. Entre os critérios, destacou‑se a capacidade de "desafiar o leitor" e de "transcender fronteiras temporais e culturais" – exatamente o que a Academia apontou na justificativa.
Os livros mais citados foram Satantango (1985) e O Melancólico da Resistência (1989). Ambos apresentam narrativas longas, frases extensas que quase chegam a ser poéticas, e personagens presos em labirintos existenciais. "A escrita de Krasznahorkui é como caminhar por um desfiladeiro onde cada pedra tem o peso de um século", comentou um crítico europeu que pediu anonimato.
Além da profundidade temática, a Academia elogiou a "visão apocalíptica" presente na obra, algo que ressoa com o clima político e ambiental atual. Em tempos de crises climáticas, conflitos e incertezas, a proposta de que a arte ainda pode ser um farol ganha força.

Reações ao redor do mundo
Logo após o anúncio, as redes sociais explodiram. No Twitter, a hashtag #Krasznahorkai2025 alcançou mais de 120 mil tweets em poucas horas. No Brasil, escritores da Fundação Biblioteca Nacional organizaram um debate ao vivo sobre a "era dos autores da sombra".
"É um alívio ver um autor tão ousado reconhecido", afirmou Julián Ríos, crítico literário da Argentina. Já o Ministério da Cultura da Hungria divulgou um comunicado exaltando "o papel da literatura húngara no cenário global" e anunciando uma série de eventos comemorativos em Budapeste.
Entretanto, nem todos celebraram. Alguns membros do parlamento sueco questionaram a "obsessão" da academia por narrativas sombrias, sugerindo que o prêmio poderia estar fora de sintonia com a esperança que o público busca.
Significado literário – o que a obra de Krasznahorkai traz de novo?
O ponto central das análises é a técnica de frases extensas, quase intermináveis, que criam um ritmo hipnótico. Essa abordagem força o leitor a respirar junto com o texto, a sentir o peso de cada palavra. "É como assistir a um filme em câmera lenta enquanto o mundo se desfaz ao fundo", descreveu uma professora da Universidade de Lisboa.
Além disso, a fusão de influências ocidentais (Kafka, Bernhard) com ecos orientais (meditações budistas, poesia han) estabelece um diálogo entre o caos europeu e a serenidade oriental. Essa dicotomia, segundo a própria Academia, confere à obra uma "dualidade única" que a destaca em meio a outros candidatos.
O reconhecimento pode abrir portas para traduções adicionais. Até agora, apenas alguns de seus romances foram lançados em português, e a premiação deve acelerar a publicação de obras ainda desconhecidas no Brasil.

Próximos passos – o futuro do laureado
Com o Nobel, Krasznahorkai receberá um diploma, a medalha de ouro e uma bolsa que a Fundação Nobel costuma fixar em torno de 10 milhões de coroas suecas – embora o valor exato para 2025 ainda não tenha sido divulgado. A cerimônia oficial ocorrerá em , no Salão da Academia, com a presença de monarcas, intelectuais e outros laureados.
Nos próximos meses, a Academia planeja publicar uma edição comemorativa da obra completa do escritor, acompanhada de ensaios críticos de especialistas. Também está prevista uma turnê de palestras em cidades europeias, incluindo Budapeste, Viena e Praga.
Para os leitores, a notícia traz a oportunidade de redescobrir um autor que, apesar de ter sido considerado "difícil" por muitos, agora tem a chancela mais prestigiosa do mundo literário.
FAQ
Qual a importância do Nobel de Literatura para autores não‑anglófonos?
O prêmio confere visibilidade internacional a escritores cujas obras ainda são pouco traduzidas. No caso de Krasznahorkai, espera‑se um aumento significativo nas traduções para línguas como o português, o que pode ampliar o alcance da literatura húngara.
Como a Academia Sueca justifica a escolha de um autor com estilo tão denso?
Segundo a justificativa oficial, a obra de Krasznahorkai combina "absurdismo e grotesco" com uma "tonalidade contemplativa" que ressoa com o clima apocalíptico atual, reforçando o papel da arte como resistência.
Quais foram os livros mais influentes citados na premiação?
A Academia destacou Satantango (1985) e O Melancólico da Resistência (1989) como obras‑chave que ilustram a capacidade do autor de explorar a condição humana em ambientes de caos.
Quando e onde será a cerimônia de entrega do Nobel?
A cerimônia acontecerá em , no Salão da Academia Sueca, em Estocolmo, com a presença de autoridades e outros laureados.
Qual o valor da bolsa Nobel para 2025?
A Fundação Nobel costuma fixar o prêmio entre 9 e 11 milhões de coroas suecas. O montante exato para 2025 ainda não foi divulgado nos comunicados oficiais.
Avaliações
É impressionante como a literatura consegue atravessar fronteiras linguísticas e culturais, e o Nobel de 2025 para László Krasznahorkai faz isso de forma magistral.
Sua escrita densa e hipnótica desafia o leitor a mergulhar em labirintos de significado que poucos autores ousam explorar.
No Brasil, ainda somos um tanto quanto desconhecidos, mas a indicação já começou a ecoar nas universidades e nas livrarias independentes.
O reconhecimento da Academia Sueca traz uma projeção que pode mudar a dinâmica de traduções, principalmente porque o prêmio costuma abrir portas para edições em línguas menores.
Além disso, a escolha reforça a importância de narrativas que abordam o apocalipse contemporâneo, algo que ressoa com as crises climáticas que vivemos.
Krasznahorkai combina o absurdo europeu com uma serenidade quase budista, gerando uma dualidade que desperta tanto o intelecto quanto a sensibilidade.
Essa mistura pode parecer paradoxal, mas é exatamente o que o comitê valorizou ao mencionar a ‘tonalidade contemplativa’ em sua justificativa.
Para os leitores brasileiros, isso significa que obras como Satantango e O Melancólico da Resistência podem finalmente ganhar versões de capa dura.
As editoras já sinalizam interesse, e vários tradutores renomados estavam aguardando uma faísca como essa.
A literatura húngara tem um legado rico, mas raramente chega ao grande público latino‑americano sem um gatilho desse porte.
É também uma oportunidade de revisitar autores centrais europeus que influenciaram Krasznahorkai, como Kafka e Bernhard, num diálogo que enriquece o cânone global.
O fato de que o prêmio reconhece o ‘terror apocalíptico’ como tema central não deve ser visto como pessimismo, mas como um convite à resistência criativa.
Cada frase longa do autor funciona como um corredor de resistência, onde o leitor se exercita mentalmente e aprende a respirar com o texto.
Essa prática pode ser comparada a meditar enquanto se lê, algo que pode ter benefícios cognitivos inesperados.
Portanto, o Nobel não é só um troféu, mas também um manifesto de que a arte ainda tem capacidade de iluminar os cantos mais escuros da existência humana.
E, claro, a visibilidade internacional pode incentivar jovens escritores brasileiros a experimentar estilos mais ousados, sem medo de serem rotulados como ‘difíceis’.