Na tarde de um domingo qualquer, enquanto o público se preparava para o tradicional programa Domingo Legal da SBT, uma pergunta aparentemente simples desmontou um time inteiro: "O pai do pastor é filho único do meu pai. O que eu sou do pastor?". O time azul, formado por Lucas Lucco e a dupla sertaneja Pedro Paulo e Alex, ficou em silêncio. Nenhum palpite. Nenhuma tentativa. E quando Celso Portiolli revelou a resposta — pai — a plateia explodiu em risos. Foi mais do que uma pegadinha. Foi um momento que resumiu o que torna o quadro Passa ou Repassa uma das maiores armadilhas da televisão brasileira: não se trata de saber, mas de não pensar demais.
Quando o conhecimento vira armadilha
O Passa ou Repassa não é só um jogo de perguntas. É um teste de resistência mental. A cada segundo que o competidor hesita, o cronômetro avança, a pressão aumenta e a ameaça da torta na cara se torna mais real. Segundo reportagem do Observatório da TV, republicada em 11 de agosto de 2025, três perguntas já entraram para a história do quadro por sua capacidade de confundir até os mais cultos. A primeira: "Qual é o menor país do mundo em território?" — com a resposta correta sendo o Vaticano, e não Mônaco, como muitos imaginam. A segunda: "Quem escreveu O Príncipe?" — e a maioria aponta Platão ou Aristóteles, quando a resposta é Maquiavel. A terceira, a mais surpreendente: "Em qual país surgiu o chuveiro elétrico?". A resposta? Brasil. Sim, o mesmo país que hoje é referência mundial em energia elétrica e inovação doméstica, mas que poucos associam a esse invento, criado por Francisco Canhos em 1942.Um pai que não é pai — e um filho que não sabe
Mas o mais impactante não foi a pergunta de genealogia do dia 26 de outubro de 2025. Foi o episódio de 29 de setembro, quando os filhos de Celso Portiolli, Gugu e Luís Ricardo, entraram no jogo. E falharam. Em uma pergunta considerada "fácil" — sobre o nome do autor de Dom Quixote — os dois não responderam. A plateia ficou em silêncio. As redes sociais, em caos. "O Celso faltando pouco abrir um buraco no chão e se enfiar dentro de vergonha", escreveu um internauta no X. "Dois filhos de um homem rico, com acesso às melhores escolas, não sabem quem é Cervantes?", questionou outro. O próprio Celso, em tom de brincadeira, disse: "Se eu fosse você, ia correr para a biblioteca mais próxima". A cena virou meme. E mostrou algo profundo: o conhecimento não é hereditário. Nem mesmo na casa de quem comanda o programa.Polêmicas, revoltas e a fronteira entre entretenimento e ofensa
Nem todas as perguntas geram risadas. Em 31 de agosto de 2025, a influenciadora Patrícia Ramos foi ao ar no Passa ou Repassa e enfrentou uma pergunta sobre religião que a deixou visivelmente revoltada. "Isso não é brincadeira, é ofensa", disse ela, antes de se recusar a responder. A produção não cortou o trecho. Ao contrário: o vídeo viralizou. A SBT nunca se posicionou oficialmente, mas o episódio levantou um debate: até onde vai a liberdade do entretenimento? O quadro sempre brincou com o inusitado — mas quando a piada toca em crenças, o que era diversão vira conflito.O que mudou desde os anos 90?
O Passa ou Repassa estreou em 1997, ainda na era de programas ao vivo, sem redes sociais, sem vídeos no YouTube, sem memes instantâneos. Hoje, cada erro vira clip de 15 segundos. Cada acerto, um post de celebridade. Em 2 de novembro de 2025, o programa exibiu um "viver sertanejo super especial" — com Sérgio Reis, Simone Mendes e Zé Neto e Cristiano — mas o foco ainda estava no jogo. Porque, no fim, o que mantém o quadro vivo não é a fama dos participantes, nem os efeitos especiais. É a simplicidade brutal da pergunta. Um segundo de dúvida. Um segundo de confusão. Um segundo para a torta cair.Como o programa mantém a relevância?
O Domingo Legal hoje é uma máquina de formatos: além do Passa ou Repassa, o programa traz o "Quem Arrisca Ganha Mais" e o "Até Onde Celso Portiolli". Mas é o primeiro que ainda atrai a atenção. Por quê? Porque ele não pede conhecimento acadêmico. Pede instinto. Pede coragem. Pede que você ignore o que aprendeu na escola e ouça o que seu cérebro grita em 3 segundos. É o contrário da era da informação. É o retorno ao caos.Frequently Asked Questions
Por que o Vaticano é a resposta correta para a pergunta sobre o menor país do mundo?
O Vaticano, com apenas 0,49 km² e cerca de 800 habitantes, é reconhecido pela ONU como o menor Estado soberano do mundo, tanto em área quanto em população. Mônaco e San Marino são menores que muitos países, mas ainda assim têm territórios maiores e estruturas governamentais mais complexas. A confusão surge porque Mônaco é mais conhecido, mas o Vaticano é um estado teocrático independente, com soberania reconhecida internacionalmente.
Por que a pergunta sobre o pai do pastor é tão difícil?
A pegadinha funciona porque o cérebro tenta mapear relações familiares complexas, quando na verdade a frase é uma tautologia: se o pai do pastor é filho único do seu pai, então você é o pai do pastor. A dificuldade está na pressão do tempo e na tentativa de complicar o óbvio. É um clássico da lógica verbal, usado em testes de raciocínio desde os anos 80, mas que só funciona bem em programas de TV — onde o espectador ri, mas o participante sente o peso da humilhação.
Quem inventou o chuveiro elétrico e por que isso surpreende?
O chuveiro elétrico foi inventado por Francisco Canhos, um engenheiro brasileiro, em 1942, em São Paulo. A surpresa vem da ideia de que inovações domésticas importantes sempre vêm de países desenvolvidos. Mas o Brasil, mesmo com limitações tecnológicas na época, criou uma solução prática para o clima quente e a falta de infraestrutura de aquecimento. Hoje, mais de 90% das residências brasileiras usam chuveiro elétrico — um dos poucos produtos de inovação nacional com adoção quase total.
O que aconteceu com os filhos de Celso Portiolli depois da entrevista?
Nenhum dos filhos, Gugu e Luís Ricardo, fez declarações públicas após o episódio. Mas fontes próximas à família afirmam que eles se divertiram com a situação e até brincaram sobre isso em redes sociais, postando memes sobre "herança cultural". O próprio Celso disse em entrevista ao UOL que "eles não são burros — só não estão acostumados a responder perguntas de quiz em 3 segundos". O episódio, porém, tornou-se um marco na história do programa: a primeira vez que a família do apresentador foi humilhada ao vivo.
O Passa ou Repassa ainda é popular hoje?
Sim. Apesar da concorrência de programas de realidade e streaming, o quadro mantém alta audiência nos domingos, com média de 4,2 milhões de espectadores, segundo IBOPE de outubro de 2025. O segredo está na nostalgia, na previsibilidade e na surpresa. O público sabe que vai rir — e também que vai se surpreender com quem erra. É o único jogo da TV onde até celebridades se sentem como alunos do 5º ano — e isso, paradoxalmente, é o que o torna eterno.